quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Pantera Negra chegou e é muito bom!

Finalmente o filme do Pantera Negra estreou e felizmente atendeu às expectativas. Mais do que isso, as superou. Soube trazer entretenimento, discussão social, representatividade e conhecimento.

Pantera Negra Forever

Existia uma desconfiança sobre o a qualidade do filme antes do seu lançamento, talvez pela vinculação do filme com os estúdios que o produziram, Marvel e Disney, e estes terem um histórico de não muita qualidade na representação negra. Outra parte da desconfiança talvez seja por ter um filme negro produzido com uma empresa gerida por brancos com histórica de muito envolvimento nos roteiros.

Com um elenco composto por 98% de pessoas pretas, o filme resgata ensinamentos de afrocentricidade e se faz animador para conhecedores ou não do assunto. Ryan Coogler tem plena consciência disso e por isso não trata seus espectadores negros como um sub-grupo que devam ser atendido em um segundo momento em detrimento dos brancos, fazendo com que eles possam se identificar com cada minuto colocado na tela.

O diretor já havia abordado a vivência de protagonistas negros em seus filmes anteriores, Fruitvale Station e Creed. No roteiro vem acompanhado de Joe Robert Cole, ganhador do prêmio de Melhor Roteiro Adaptado de Filme Para TV no Writers Guild of America Award 2017 por The People vs. O.J. Simpson: American Crime Story. Temos aqui dois roteiristas jovens pelos padrões da indústria hollywoodiana, mas que em suas obras anteriores mostrara-se exímios conhecedores da complexidade social.

Ryan Coogler / Joe Robert Cole
Ryan Coogler / Joe Robert Cole
Nos deparamos com um produção encabeçada por pessoas negras, por trás e pela frente das câmeras, que na tela mostram o resultado de todo o comprometimento que tiveram. De atuações bem colocadas ao roteiro bem alinhado, percebemos que as pessoas envolvidas sabiam o significado daquilo que estavam participando. Lupita Nyong'o chegou a treinar artes marciais para filme. Ryan Coogler solicitou um maquete em 3D para visualizar o storyboard. Chadwick Boseman estudou xhosa e sotaques para tornar a construção do seu papel verossímil.

Com um olhar crítico sobre as divergências intrarraciais, ele humaniza pessoas negras dando lhes desejos próprios, mostrando que para além de grupo que detêm laços em comum também temos nossas particularidades. Destaque para as mulheres negras apresentadas, que na narrativa se mostram detentoras de capacidade decisória própria, nem que para isso discordem daqueles que amam. Em poucos minutos sabemos das vontades e medos das personagens, todas definidas por características próprias. Nakia é a idealista que receia pela vida de quem ama. Okoye é a general que tem seu amor maior voltado a sua nação. Shuri é a princesa inteligente que dá a força tecnológica ao seu povo. Ramonda é a antiga soberana cautelosa sobre suas decisões.

Mas o filme não se furta de tecer comentários aos brancos e ao modelo social ocidental. O racismo anti-negro é mundial e aqui serve como motivação base do filme, provocando a discussão entre negros de quais estratégias devem ser utilizadas para o seu combate. Nenhum método é colocado de ante-mão como ideal e o seus desdobramentos só poderá ser notados quando aplicado.

O anti-herói N'Jadaka, nome wakadiano de Erik Killmonger, está empenhado na sua lura, mas o resultado de sua impulsividade no desejo de vingança pessoal são incertos. Um personagem eximiamente bem construído que nos ganha a empatia em determinados momentos. T'Challa, o atual Pantera Negra, é o recém regente empossado de Wakanda e pela sua inexperiência não sabe lidar com a responsabilidade de governar a nação mais desenvolvida do mundo, nem de proteger seus semelhantes.

Aqui quem ganha o papel secundário são os brancos, podendo até serem descartados do longa. Ulysses Klaw é um vilão caricato que busca apenas a baderna e dinheiro. O agente Ross serve mais como ponte entre outros filmes da Marvel e passa longe de ter alguma relevância. Em um momento é dado maior significância a esses personagens, mas que facilmente poderia ter sido dado outra resolução. Talvez foi a maneira encontrada para que brancos não se sentissem tão desprestigiados ao assistir o filme, o que até seria cínico pois pessoas não-brancas constantemente estão neste lugar.

Wakanda respira beleza. A direção de arte de Hannah Beachler é de grande beleza e mostra a capacidade inventiva aplicada ao vibranium, metal abundante na região, dos wakadianos. Ruth E. Carter se sobressai no vestuário. A diretora de figurino trabalhou exaustivamente para compor uma nação própria composta de diversas referências à cultura de povos do continente africano.

Detalhe para a diversidade do figurino
Detalhe para a diversidade do figurino

A trilha sonora composta por Kendrick Lamar casa perfeitamente com os momentos do filme. As canções, as colocações, tudo é pensando para termos noção da importância dos elementos ali inseridos e que sozinhos funcionam, mas juntos se elevam.

Wakanda Forever!

Pantera Negra poster Pantera Negra (Black Panther, EUA, 2018)
 Diretor: Ryan Coogler
 Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira

Nenhum comentário:

Postar um comentário